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"Maurice",
de E. M. Forster

Escrita entre 1913 e 1914, mas publicada apenas postumamente em 1971, a obra tornou-se um marco da literatura mundial por sua ousadia, lirismo e pela coragem de imaginar um desfecho diferente para a homossexualidade em um tempo em que o amor entre homens era criminalizado e condenado ao silêncio. O que distingue Maurice de outras obras do período é sua recusa em seguir o caminho trágico reservado ao desfecho das narrativas homoeróticas. Enquanto outros romances encerravam suas histórias em suicídios, punições ou renúncias dolorosas, Forster ousou imaginar um futuro no qual dois homens poderiam viver juntos ― não como exceção romântica, mas como algo concreto. Por isso, a obra é reconhecida como um dos primeiros grandes romances gays com final feliz, manifestação literária e política que ressoa até hoje, mais de cem anos após sua escrita. Em suas notas, o próprio Forster afirmou que escreveu o romance “para uma futura geração”, acreditando que somente quando o mundo estivesse mais aberto seria possível partilhá-lo.

"Lésbia",
de Maria Benedita Bormann

Na sociedade patriarcal brasileira do ocaso do século 19, as funções em geral reservadas às mulheres resumiam-se praticamente às de gestora do lar e mãe. A poucas era possível cumprir algum papel de destaque. Nascida no Rio Grande do Sul e criada no Rio de Janeiro durante a belle époque, Maria Benedita Bormann foi uma dessas exceções. Em Lésbia, ela narra as venturas e desventuras de Arabela, jovem de educação requintada e grande sensibilidade que supera a experiência de um casamento marcado pela repressão e humilhação para se destacar como escritora, execrando a ideia de um novo matrimônio. Embora extremamente bonita e talentosa, ela precisa enfrentar o menosprezo e a cobiça masculina para se impor. O coração, porém, a trai no momento em que julga ter alcançado a maturidade emocional que supostamente a imunizaria de mais decepção e tragédia. Servindo-se da personagem como alter ego, Bormann — que, tal como sua criação, usava um pseudônimo, "Délia" — faz provocações ousadas para sua época neste romance, publicado sob o selo 106 Clássicos em edição revisada e atualizada para proporcionar uma experiência de leitura ainda mais fluente e prazerosa ao público contemporâneo.

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"O Moço Loiro", de  
Joaquim Manoel de Macedo

Honorina, uma jovem e bela dama, sempre cercada de ilustres admiradores – e por isso alvo de inveja das moças da Corte –, começa a ser cortejada por um homem misterioso, conhecido apenas pela alcunha de "O Moço Loiro". Ele está sempre por perto, como que onipresente, valendo-se de uma série de artimanhas para ocultar sua identidade. No entanto, as atenções da dama a esse misterioso cavalheiro começam a causar ciúmes naqueles que nutrem esperanças em conquistar o seu amor. Por causa de um deles, o mais fervoroso e o mais desprezado por ela, Honorina e sua família acabam sofrendo as consequências de um plano perverso. Repleto de personagens charmosos e carismáticos, o romance de Joaquim Manuel de Macedo mistura doçura, ironia e comicidade. Trata-se de um belo retrato do Rio de Janeiro do século XIX.

"Hibisco Roxo",
de Chimamanda N. Adichie

Protagonista e narradora de Hibisco roxo, a adolescente Kambili mostra como a religiosidade extremamente “branca” e católica de seu pai, Eugene, famoso industrial nigeriano, inferniza e destrói lentamente a vida de toda a família. O pavor de Eugene às tradições primitivas do povo nigeriano é tamanho que ele chega a rejeitar o pai, contador de histórias encantador, e a irmã, professora universitária esclarecida, temendo o inferno. Mas, apesar de sua clara violência e opressão, Eugene é benfeitor dos pobres e, estranhamente, apoia o jornal mais progressista do país. Durante uma temporada na casa de sua tia, Kambili acaba se apaixonando por um padre que é obrigado a deixar a Nigéria, por falta de segurança e de perspectiva de futuro. Enquanto narra as aventuras e desventuras de Kambili e de sua família, o romance também apresenta um retrato contundente e original da Nigéria atual, mostrando os remanescentes invasivos da colonização tanto no próprio país, como, certamente, também no resto do continente. 

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"Mau Hábito",

de Alana Portero

Narrado a partir de uma voz singular em primeira pessoa, Mau hábito atravessa a adolescência de uma menina que cresce em um corpo que não sabe habitar. Acompanhamos sua busca em compreender a si mesma e ao mundo em que vive, desde a infância, em um bairro operário arrasado pela heroína, nos anos 1980, até as noites clandestinas no centro de Madri, nos anos 1990. Nesta versão errante da jornada do herói, viciados, divas pop e anjos caídos acompanham a protagonista em um itinerário no qual outras mulheres a ajudarão a superar a violência que encontra a cada passo. É uma história fronteiriça e mágica sobre como é viver entre dois mundos e nos tornar quem somos. Mau hábito é um romance cru e feroz, mas também poético e comovente, em que os extremos se tocam para mostrar que o ressentimento e a raiva contra o sistema são justificáveis quando se tenta sobreviver em uma sociedade que rechaça as diferenças. Dona de um universo criativo único, em que convivem o teatro, a história clássica e o ativismo, Alana S. Portero estreia na ficção com este romance deslumbrante, que se tornou um fenômeno editorial internacional antes mesmo de sua publicação.

"Carga Viva",
de Ana Rüsche 

A ternura dos laços humanos e a fragilidade de um poeta que, diante da morte, resolveu escrever. Ao combinar lirismo, crítica social e um olhar pungente sobre as relações humanas, Carga viva conta a história do advogado Carlos Alberto ao descobrir sua condição terminal e embarcar em uma fuga simbólica e literal com seu amante, Félix, para o litoral paulista. Em Ubatuba, a convivência em uma casa de praia entre as montanhas e o mar revela não apenas as tensões da saúde debilitada de Carlos, vítima de uma doença devastadora e ainda envolta em desconhecimento e preconceito, mas também as nuances de uma relação marcada pela fragilidade do pouco tempo de vida e pelo desejo de se viver em plenitude. Quem resgata essa história anos depois é uma pesquisadora acadêmica grávida, com o auxílio de sua irmã mais nova, paradoxalmente presente e distante. Abordando temas universais e profundamente humanos, este romance entrelaça narrativas pessoais com a complexidade do contexto histórico e político dos anos 1980 e o tempo presente. A obra expõe preconceitos, desigualdades e a luta pela manifestação da própria identidade, ao mesmo tempo que examina contrastes culturais e dilemas éticos por meio de sua rica gama de personagens. O ambiente litorâneo serve como arena de conflitos e a beleza da paisagem camufla tensões latentes, refletindo as dinâmicas emocionais e sociais que moldam a vida de todos, ontem e hoje.

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