"Madame Bovary", de Gustave Flaubert
Responsável por levar Gustave Flaubert aos tribunais sob acusação de imoralidade, Madame Bovary ergueu-se junto de sua protagonista, dando origem a uma geração de personagens em busca de liberdade. Uma história que começa no "felizes para sempre" pode mesmo ser feliz? Após uma jovem sonhadora se casar com o médico da região, a realidade à sua volta se transforma: o que Emma Bovary encontra no matrimônio, longe das paixões emocionantes dos livros que lê, é uma rotina pacata e até tediosa. Inconformada e sedenta por aventuras românticas idealizadas, Emma começa a adoecer e não vê outra saída senão buscar as emoções que deseja ― por métodos que a sociedade conservadora ao seu redor não poderia compreender, muito menos aceitar. Publicado em 1857 em uma sociedade pouco voltada aos interesses femininos, Madame Bovary surge vanguardista com uma história sem culpados nem inocentes, reforçando o encantamento pelas idas e vindas da experiência humana, o desejo por pessoas, por sensações, pelo espaço urbano e, sobretudo, o desejo de ser desejada.


"Felicidade conjugal",
de Lev Tolstói
Publicada em 1859, quando o escritor tinha pouco mais de trinta anos, Felicidade conjugal é talvez a primeira obra-prima de Lev Tolstói e prenuncia um tema que terá importância fundamental na vida do autor russo - o tema do desejo, neste caso apreendido do ponto de vista feminino. Segundo Boris Schnaiderman, Tolstói escreveu uma novela em que "o humano e o literário encontram o seu máximo de expressão".
"Dom Casmurro",
de Machado de Assis
Poucos romances examinam com tanta sutileza as artimanhas do ciúme como Dom Casmurro . Publicado em 1899, o livro permanece ainda hoje como um dos mais fascinantes estudos da traição. Aliás, como o leitor mais atento perceberá, são supostamente duas: a de Capitu, exposta pelo marido Bentinho, e a própria narrativa sobre como Bentinho modifica os fatos para corroborar suas suspeitas matrimoniais.
Tudo isso é narrado com graça e inteligência num romance que jamais parece esgotar suas possibilidades de leitura. Críticos como Roberto Schwarz e Susan Sontag consideram a obra de Machado como um dos momentos mais altos da prosa ocidental do final do século XIX.


"Confissões de uma máscara", de Yukio Mishima
Koo-chan vive um momento de conflito interior no Japão do entreguerras. No começo da adolescência, tem fantasias que combinam impulso sexual e violência sadomasoquista, desejo e morbidez. O rapaz chega a imaginar um "teatro da morte", em que jovens lutadores se enfrentariam como gladiadores, exclusivamente para êxtase do próprio Koo-chan.
À medida que avança na adolescência - e a Segunda Guerra Mundial se desenrola -, o rapaz tenta se interessar por mulheres, entre as quais Omi e Sonoko. Por detrás da máscara de "normalidade", porém, ele sabe que sua orientação sexual não corresponde aos padrões convencionais. O protagonista empreende, aos poucos, uma viagem interior de descoberta e construção da própria identidade. Confissões de uma máscara (1949) é um dos livros mais importantes de Mishima - pseudônimo de Hiraoka Kimitake (1925-1970).
"Maus",
de Art Spiegelman
Maus ("rato", em alemão) é a história de Vladek Spiegelman, judeu polonês que sobreviveu ao campo de concentração de Auschwitz, narrada por ele próprio ao filho Art. O livro é considerado um clássico contemporâneo das histórias em quadrinhos. Foi publicado em duas partes, a primeira em 1986 e a segunda em 1991. No ano seguinte, o livro ganhou o prestigioso Prêmio Pulitzer de literatura.
A obra é um sucesso estrondoso de público e de crítica. Desde que foi lançada, tem sido objeto de estudos e análises de especialistas de diversas áreas - história, literatura, artes e psicologia. Em nova tradução, o livro é agora relançado com as duas partes reunidas num só volume. Nas tiras, os judeus são desenhados como ratos e os nazistas ganham feições de gatos; poloneses não-judeus são porcos e americanos, cachorros. Esse recurso, aliado à ausência de cor dos quadrinhos, reflete o espírito do livro: trata-se de um relato incisivo e perturbador, que evidencia a brutalidade da catástrofe do Holocausto. Spiegelman, porém, evita o sentimentalismo e interrompe algumas vezes a narrativa para dar espaço a dúvidas e inquietações. É implacável com o protagonista, seu próprio pai, retratado como valoroso e destemido, mas também como sovina, racista e mesquinho. De vários pontos de vista, uma obra sem equivalente no universo dos quadrinhos e um relato histórico de valor inestimável.


"O túmulo veloz",
de Robert Galbraith
A agência do detetive Cormoran Strike é contratada por um angustiado pai cujo filho, Will, se tornou membro de um culto religioso na zona rural de Norfolk.
A Igreja Humanitária Universal é, aparentemente, uma organização pacífica que faz campanha por um mundo melhor. Apesar disso, o detetive descobre que sob tal fachada de humanidade existem camadas profundamente sinistras e mortes inexplicáveis.
Na tentativa de resgatar Will, Robin Ellacott, sócia de Strike, decide se infiltrar na seita. Ela viaja sozinha para a Fazenda Chapman, uma das sedes da igreja, com a intenção de viver incógnita entre seus membros. Ao fazer isso, porém, ela se dá conta de que não está preparada para os perigos que a cercam, muito menos para o preço que tal permanência vai cobrar de sua vida. Impossível de largar, "O túmulo veloz" é o retorno dos detetives Strike e Robin, no épico e inesquecível sétimo volume da série.
"O crime do bom nazista", de Samir Machado de Machado
Vencedor do PRÊMIO JABUTI 2024 NA CATEGORIA ROMANCE DE ENTRETENIMENTO
A partir de clássicos da literatura policial, como Agatha Christie e Arthur Conan Doyle, Samir Machado de Machado faz uma releitura e uma homenagem ao gênero, numa trama que traz baronesas misteriosas e espiões comunistas em meio à ascensão do Terceiro Reich e à perseguição nazista aos gays da Berlim dos anos 1930. A isso, O crime do bom nazista combina temas do Brasil contemporâneo, mostrando como questões tristemente atuais podem perdurar por décadas.
