top of page

“O Ickabog”, de J. K. Rowling

Writer: LiteristóriasLiteristórias

Por Victor Menezes*

Entre maio e julho de 2020, a autora britânica J. K. Rowling lançou, num formato semelhante ao de folhetim, o romance infantil “O Ickabog”. Durante os três meses de sua publicação original acompanhamos, via o site www.theickabog.com, as aventuras de Daisy e Bart pela Cornucópia e desvendamos o mistério acerca da lenda do Ickabog, o monstro que dá nome ao livro e que, dependendo de quem conta a sua história, possui o formato de serpente, dragão ou lobo. Agora, com a publicação do romance no formato físico, temos a chance de revisitar – ou visitar pela primeira vez – este novo mundo literário de Rowling que é tão cativante quanto aquele em que habitam Harry, Rony e Hermione. A edição física e em capa dura de “O Ickabog”, lançada pela Editora Rocco no final de 2020, ainda traz uma novidade: trinta e quatro ilustrações que foram feitas por crianças brasileiras.

Classificado por Rowling como uma história sobre “a verdade e o abuso de poder”, “O Ickabog” foi escrito quando a autora ainda trabalhava no último volume de “Harry Potter”. Na época, ela o leu para seus filhos e em seguida o guardou em uma caixa no sótão de sua casa em Edimburgo. Devido ao lockdown provocado pelo surto da COVID-19, Rowling decidiu então publicá-lo com o intuito de entreter os leitores e fãs de seus trabalhos que estavam em quarentena. A publicação original, como comentei acima, se deu no formato parecido com o de folhetim e foi disponibilizada gratuitamente em seu idioma original – o inglês –, e também em português, espanhol, francês, italiano, alemão, russo e mandarim. Já as versões em capa dura e-book que estão sendo vendidas agora trazem outra importante contribuição às pessoas atingidas pela pandemia: todo o valor concernente aos royalties do livro estão sendo doados para instituições que atuam no combate ao coronavírus.

Assim como “Os Contos de Beedle, o Bardo” publicado por Rowling em 2008, “O Ickabog” flerta com o gênero textual que chamamos de contos de fadas. A história se inicia com o clássico “Era uma vez…”; é ambientada em um reino fictício que possui características bastante semelhantes à de reinos reais que existiram no passado; discute temas relacionados à bonança, pobreza, bondade e maldade; apresenta protagonistas que se tornam órfãos; fala de reis, ladies, cavalheiros e plebeus; tem um pezinho na fantasia (ou numa mitologia) e é escrita, intencionalmente, de maneira que adultos consigam lê-la em voz alta para seus filhos, netos, sobrinhos ou quaisquer outras crianças que lhes sejam próximas.

Em comparação ao estilo em que foi escrito “A Pedra Filosofal”, por exemplo, “O Ickabog” tem uma estrutura narrativa e vocabulários bem mais acessíveis às crianças em idade pré-escolar ou que estejam nos anos escolares iniciais. Isso se explica, por certo, pelo intuito da autora britânica em atingir, com essa sua história, pessoas com menos de nove anos de idade, ao contrário do que ela planejara inicialmente para o primeiro volume de “Harry Potter” (voltado à faixa etária de 9-12 anos conforme mencionou em uma carta escrita em 1995 ao agente literário Christopher Little).

Não achem, porém, que esta nova história é voltada e/ou agrada somente as crianças. Em “O Ickabog”, onde as coisas quase sempre não são o que parece, temos um enredo recheado de discussões políticas e sociais que, com toda certeza, é um deleite aos leitores de todas as idades. Ao contrário do que possa inicialmente parecer, este é um livro muito mais sobre líderes políticos populistas, incompetentes e tiranos, conselheiros e soldados corruptos e súditos/cidadãos que se recusam a enxergar as verdades acerca de um governo do que sobre uma criatura que come crianças, ovelhas e cachorros…


*Victor Menezes é Bacharel e Licenciado em História e Mestre em História Cultural pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente desenvolve pesquisa de doutoramento no Programa de Pós-Graduação em Gerontologia da Unicamp, sobre o Ensino de História voltado à terceira idade, e atua como organizador e mediador do Literistórias.

Comments


bottom of page