Por Thamires Paes dos Santos*
thamipaes@hotmail.com
Você já imaginou se na praça do seu bairro surgisse uma árvore que desse dinheiro? O que você faria sabendo disso? É exatamente o que acontece na cidade de Felicidade, que de certa forma, representa o próprio Brasil. Nessa cidade, um idoso muito avarento deixa uma muda para a população, no dia da morte dele. Calha dessa muda ser de uma árvore que dá dinheiro! Todo mundo fica louco! A árvore cresce muito rápido e todo mundo luta para arrancar um pedaço dela para plantar no seu próprio quintal. A cidade de Felicidade inteira parece ter ficado muito rica. Só três personagens não se importam muito com essa história e continuam a viver normalmente – na medida que dá -, com toda a confusão e euforia.
Felicidade, seus habitantes, e a árvore que dá dinheiro formam a história do livro de Domingos Pellegrini, chamado "A árvore que dava dinheiro". Pellegrini é um autor que já ganhou dois prêmios Jabuti (1977, 2001), tendo escrito esse livro para a coleção vaga-lume, publicado em 1981. Apesar de ter sido publicado quase 40 anos atrás, o livro continua muito atual por seus temas de consumismo, individualismo e capitalismo.
A obra tem cerca de 110 páginas, dependendo da edição, e é excelente para se trabalhar com o 9º ano (13-15 anos) por conta da sua linguagem fácil, seu ritmo empolgante e pela universalidade dos assuntos. A narrativa fala tanto conosco, que os personagens nem mesmo têm nomes: podem ser qualquer vizinho nosso, ou até a gente mesmo. Ela é narrada em terceira pessoa, com muito humor irônico, e aos poucos vamos sabendo como as situações vão crescendo – e acredite, elas crescem muito, igual à arvore.
A edição utilizada para esta resenha (Ática, 1991) apresenta ilustrações em preto e branco, que interagem com a história: desde cartazes de compra e venda no meio da narrativa, até mesmo imagens com representações de momentos do texto. Essa edição ainda traz um prefácio, que nos ajuda a saber de onde o autor tirou a ideia da história: quando era criança, ele via muita gente honesta e ingênua perder a cabeça em busca de dinheiro fácil.
Com um tom fantástico e trazendo uma ideia de fábula – temos uma moral no final – "A árvore que dava dinheiro" pode ser trabalhada em sala de aula, levantando a discussão de uma série de assuntos, como o poder do dinheiro, o funcionamento do capitalismo, a prática do turismo, a competitividade desenfreada, o egoísmo e a ganância. Sem contar que insere o leitor em uma tradição muito brasileira e latino-americana de um realismo fantástico, que podemos observar na nossa cultura geral, desde novelas como Saramandaia (Rede Globo 1976/2013), passando por narrativas de cordel, nos levando a livros como “Cem anos de solidão”, de Gabriel García Márquez.
* Thamires Paes dos Santos é formada em História pela Unicamp e graduanda em Letras – Português pela UFMG. Atualmente atua como professora da rede estadual de Minas Gerais, lecionando História no Ensino Fundamental II.
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